quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Produtos ou embalagens?

Quando você vai ao supermercado, fazer suas compras periódicas, você escolhe seu produto pela embalagem?

Nós adotamos uma escolha diferente, que gostaríamos de compartilhar com você: escolhemos pela falta de embalagem. Ou seja, se há dois produtos similares na gôndola, com preços parecidos, escolhemos sem dúvida nenhuma o que apresenta menos embalagem.

Entre algumas razões que justificam este posicionamento no ponto de venda:
- consumimos produtos e não embalagens;
- mesmo aumentando a capacidade de reciclagem, muitas embalagens (desenvolvidas para preservar o produto ou não) tem um processo de reciclagem oneroso ou impraticável;
- quando levamos uma embalagem para casa, passa a ser nossa responsabilidade dar a destinação correta (vide o Artigo no nosso blog "Um lixo para chamar de seu");
- Embalagens em exagero encarecem os produtos e normalmente pagamos por elas;

No entanto, o consumidor ainda não se deu conta disto, apesar de ser uma atitude muito simples, que não envolve custo para seu bolso e pode ser uma boa prática sustentável no dia a dia.

Além da falta de percepção do consumidor, existe também uma prática estabelecida pela área de marketing de grandes empresas alimentícias, que parecem ignorar completamente qualquer direcionamento para atitudes sustentáveis reais, através de suas embalagens. Isto quando não a usam  para divulgar informações incompletas e duvidosas, que levam à prática de greenwashing.

Um exemplo prático da falta de comprometimento de alguns fabricantes com a causa, pode ser percebido nos Iogurtes Gregos, produto recém lançado no mercado. Na geladeira de uma grande rede de supermercado de São Paulo, nesta semana, identificamos duas marcas: Iogurte Grego Vigor e Iogurte Grego Nestlé, ambos custando R$1,99. O Vigor tem 100g  de iogurte (sem calda adicional) e o Nestlé tem 100g de iogurte e 30g de calda.

O Nestlé oferece a calda e iogurte de forma independente, mas na mesma embalagem plástica com tampa de alumínio. Porém o Vigor apresenta o produto com duas embalagens: um papel cartão laminado, que não tem função nenhuma a não ser invólucro estético e o tradicional pote de plástico com tampa de alumínio. Ressaltamos que mesmo com 30% a mais de produto, o Nestle é o mesmo preço do Vigor.



Fazendo uma relação direta, um consumidor comum deveria concluir que está pagando 30% a mais pelo Vigor em relação ao Nestlé, para levar a embalagem, ou seja, lixo para casa.

Neste caso, ainda vale ressaltar que a reciclagem de papel laminado é considerada inviável para a maioria das empresas que realizam este serviço (de reciclagem de papel). Mesmo com estudos avançando nesta área, como o desenvolvimento de enzimas que podem facilitar o processo de decomposição de papel laminado, ainda assim temos que assumir a responsabilidade de nossas escolhas e saber que em conceitos sustentáveis, reduzir vem antes de reciclar.

Da próxima vez que for fazer suas compras, observe quantas embalagens desnecessárias está adquirindo e mude sua atitude, compre o produto e não o seu invólucro sedutor e brilhante. Faça trocas inteligentes e perceba como isto vai ser positivo em muitos aspectos, inclusive para seu bolso.









quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O mistério das sacolinhas



As sacolinhas plásticas continuam sendo uma polêmica. Alguns apoiam o fim da distribuição gratuita no varejo, outros condenam e muitos, mas muitos mesmo, não conseguem formar opinião por acharem que de alguma maneira falta informação confiável, para se posicionarem.


Eu faço parte do último grupo. Independente das questões políticas do varejo, a falta do conhecimento bioquímico que envolve produção e decomposição de sacolinhas plásticas nos fez procurar informação na origem. Além de pesquisar muito sobre a fonte e matéria prima básica, falamos com quem tem um profundo conhecimento sobre o processo de fabricação de sacola e tentamos, com isso, obter informação suficiente para nos posicionarmos.

O escolhido para nos ajudar com essa missão foi o empresário Ricardo Caetano, dono da Lukaflex e da Cia da Embalagem, duas empresas que fabricam sacolas dos mais diversos materiais, entre eles plástico, papel, TNT, nylon, algodão, entre outros, e que possui mais de 30 anos de experiência no setor. A entrevista foi realizada dentro de uma de suas linhas de produção, na qual tivemos a oportunidade de acompanhar a fabricação de alguns tipos de sacolas.

Apesar de termos obtido informações relevantes sobre a origem da matéria prima para produção dos mais diversos plásticos, neste primeiro momento iremos focar especificamente nos tipos de sacolas plásticas, para auxilia-lo no seu conhecimento sobre o assunto. Isto porque a produção dos polímeros envolvem questões econômicas, políticas e até mesmo filosóficas, além de agregar um império mundial da indústria petroquímica, que valem uma maior aprofundamento.

Para iniciar, resgatando um pouco dos conhecimentos de química orgânica, os polímeros que dão origem aos plásticos, são derivados do petróleo, mais precisamente, de um produto gerado através dos gases buteno e propeno, que se chama nafta. Dentro da infinidade de polímeros utilizados para a produção de sacolas encontramos o polietileno, usado na maioria das sacolinhas plásticas, o polipropileno, que produz as sacolas de TNT (tecido não tecido) e a poliamida (sacolas de nylon). Vale destacar que todas estas substâncias levam cerca de 400 anos para decomposição completa no meio ambiente.

No entanto, a indústria química e petroquímica vem desenvolvendo novas substâncias que aprofundam o cenário das sacolinhas e  trazem mais dados para levarmos em consideração na hora de formarmos opinião sobre este assunto.

Hoje existem cerca de 8 tipos de plásticas distribuídas no varejo. Vamos lista-las a seguir e trazer alguns pontos positivos e negativos de cada uma:

1- Plástico convencional.
Matéria prima principal: polietileno
Tempo de decomposição: 400 anos
Reciclável

A grande maioria das sacolas plásticas que encontramos em redes de varejo são deste tipo.

O seu processo de fabricação é comum a outros tipos de sacolas  e consiste em basicamente 3 etapas: 1- grânulos de polietileno (que tem o tamanho de grãos de feijão) passam por uma extrusora que forma o filme plástico; 2- a bobina de filme plástico vai para a máquina impressora onde são impressas as informações do varejista; 3- para finalizar o processo o filme já impresso vai para uma máquina de corte e solda, onde é finalmente fabricada a sacolinha em seu formato final.

Neste processo, algumas variações podem ocorrer. Por exemplo, se a sacolinha for colorida, na 1ª etapa da fabricação é agregado o pigmento e o filme plástico já é extrudado na cor desejada. É também nesta 1ª etapa que é definida a espessura da sacolinha plástica.

Dentro da linha de fabricação visitada, dois outros equipamentos chamaram a atenção e valem destaque, pois deixam claro uma das características principais do polietileno: 
- na 1ª etapa o refugo gerado pelo corte das laterais do filme plástico é prensado, triturado e agregado aos grânulos de polietileno virgens, para nova extrusão de filme; 
- uma maquina fabricada pelo próprio Ricardo Caetano e sua equipe tem a capacidade de triturar rolos de filmes plásticos inteiros, ou sacolinhas já produzidas, liquefazer o polietileno novamente e condensa-lo em grânulos, que podem ser integralmente reaproveitados na produção do filme plástico.

Isto significa que o polietileno empregado para fabricação de sacolinhas plásticas tem um ciclo fechado, onde sacolinha pode virar sacolinha novamente, possibilitando tanto reaproveitamento pré consumo, como reciclagem pós consumo, que são o tipo que veremos a seguir.

2- Plástico Reaproveitado pré e Reciclado pós consumo.
Matéria Prima principal: polietileno, podendo haver também pigmento, traços de tinta para impressão e aditivos.
Tempo de decomposição: 400 anos
Reciclável e Reciclado

Como mencionamos o plástico pré consumo é gerado à partir de materiais produzidos na fabrica. Apresenta características idênticas à sacolinha feita com matéria prima virgem.

O plástico pós consumo passa por uma etapa anterior de triagem e lavagem. Por agregar alguns processos a mais que envolvem consumo de energia e agua, além de mão de obra, tem o valor de venda final maior do que de uma sacolinha plástica feita de matéria prima virgem. Além disso, por possuir pigmentos e traços de tintas, não possui a característica de ser totalmente branca, por isso não é a escolha preferida da maioria dos varejistas.

No entanto, uma boa alternativa sob o ponto de vista do ciclo de vida do produto.

3- Plástico verde
Matéria Prima principal: polietileno "verde" produzido à partir de fonte renovável (cana de açúcar)
Tempo de decomposição: 400 anos
Reciclável 

Hoje a Brasken tem exclusividade no fornecimento deste polímero "verde". Ele pode tanto compor 100% da matéria prima para extrusão de plástico, como ser apenas uma pequena porcentagem de sua composição, misturando-se ao polietileno convencional.

Quando o fabricante utiliza mais de 51% do polímero "verde" na fabricação de plásticos, a Brasken autoriza que se agregue ao  produto a frase " I'm green".

Temos neste produtos (plástico "verde") algumas questões filosóficas para expor: 

a- O tempo de decomposição é o mesmo do que o plástico convencional, por isso temos que estabelecer o julgamento de quanto "verde" isto pode ser.

b- Substitui uma matéria prima não renovável (nafta) por uma renovável (cana de açúcar), que pode ter aparentemente inúmeras vantagens. No entanto gera polêmica quanto a substituição de produção de alimentos pela a produção de plásticos e combustíveis em terras agriculturáveis, podendo estabelecer um risco crescente para as reservas de mata nativa, além de drásticas mudanças no cenário econômico (influenciando valor de alimentos e etanol).

c- Mesmo sendo uma matéria prima desenvolvida à partir de fonte renovável, que absorve emissões de CO2, o cultivo da cana necessita de muita irrigação, que consequentemente consome uma substância primordial para o ser humano: a agua. (segundo o Water Footprint é necessário 1500 litros de agua para produção de 1kg de açúcar).

d- Adotar o slogan "I'm green" pode ter uma conotação de greenwashing, assunto que estamos debatendo a tempos, ou seja, pode dar a falsa impressão de se estar fazendo o bem para o planeta ao consumir um plástico, estimulando o seu consumo, camuflando aspectos negativos deste produto como o fato de ter o mesmo tempo de decomposição de um plástico comum.

Enfim, é uma nova tecnologia, um novo material que sem dúvida tem virtudes, porém a comparação do quanto verde pode ser, deve ser feita através de uma análise criteriosa de ciclo de vida e levando em consideração os pontos acima.

4- Plástico oxibiodegradavel.
Matéria Prima principal: polietileno e aditivos.
Tempo de decomposição: ?

Segundo Ricardo Caetano, este é um material com vários pontos polêmicos. E isto se inicia nos laudos Técnicos  sobre a eficácia de real degradação do material: algumas entidades muito confiáveis defendem e outras condenam. Portanto, para começar, falta coerência técnica sobre este tipo de plástico.

O processo de fabricação é idêntico ao plástico convencional, no entanto, junto aos grânulos de polietileno é agregado um aditivo que acelera a decomposição do plástico quando exposto ao oxigênio, criando um ambiente mais favorável para as bactérias agirem, transformando uma sacola plástica em milhares de micro pedaços de plástico. No entanto, segundo Ricardo, este processo pode liberar metais pesados no meio ambiente e este é outro ponto controverso nos laudos.

Este processo de degradação deve se iniciar após um ou dois anos da data de fabricação do plástico e como não há regulamentação alguma vigente, é muito comum encontrar no mercado sacolas ou embalagens que tem impressa a frase afirmando que é um material oxibiodegradavel, mas que não apresenta data de fabricação nem nome do fabricante, ficando desta maneira muito difícil comprovar a eficácia deste material.

5- Plástico Biodegradável compostável de base alimentar
Matéria Prima principal: Batata, mandioca, milho
Tempo de decomposição: 6 a 9 meses


Utiliza base 100% alimentar (batata/milho/mandioca) porém tem seu custo 3 vezes maior em relação ao  plástico convencional. A base da matéria prima é totalmente importada e a produção nacional ainda está em fase de implantação.

A produção da materia prima, assim como do Plástico verde, pode comprometer o plantio de alimentos e deve ser dado uma atenção especial a este ponto.

Diferente do polietileno que tem um ciclo fechado, ou seja, plástico vira plástico, este material tem o processo de decomposição orgânica, ou seja, ele se decompõe como os resíduos orgânicos em geral, como restos de alimentos e detritos. Isto quer dizer as sacolas feitas neste material devem ter sua destinação final nos sistemas de compostagem orgânica e não nas cooperativas de coleta seletiva.

O grande desafio deste material é informação e aculturamento. Sendo um material biodegradável em compostagem, este é possivelmente o melhor material para ser utilizado como sacos de lixo, desde que este lixo tenha também a destinação correta. 


6- Plástico Biodegradável aditivado
Matéria Prima principal: polietileno e aditivo
Tempo de decomposição: 10 a 20 anos


Este é um material relativamente novo e tem a seguinte proposta: em situação aeróbica, ter sua  degradação realizada em 10 anos  e em sistema anaeróbico realizada em 20 anos. Diferente do plástico oxibiodegradavel, este tipo de plástico pode, teoricamente, ser enterrado em um aterro sanitário e mesmo assim ter sua degradação realizada em tempo 20 vezes menor do que o plástico convencional.

Ainda em fase de experimentação e com laudos tão controversos quanto o plástico oxibiodegradavel, este material segue o mesmo principio de se adicionar um tipo de aditivo ao polietileno convencional. No entanto ainda faltam dados consistentes sobre a real decomposição e reciclagem.

7- TNT (tecido não tecido)
Matéria Prima principal: Polipropileno
Tempo de decomposição: 400 anos
Reciclável

O TNT é um material cada vez mais utilizado no varejo, principalmente em moda e acessórios, isto porque além de se parecer de fato com um tecido, tem um apelo de material mais nobre. Além disso, sem conhecer a origem do material pode se ter a falsa impressão de material "ecologicamente correto".

No entanto, ele é um polímero como tantos outros, com a sua biodecomposição tão lenta quanto um plástico convencional, ou seja cerca de 400 anos. Um ponto a mais para ser levado em consideração, é que apesar de ser reciclável, seu processo é mais oneroso e difícil do que a reciclagem do plástico convencional.

8- Nylon
Matéria Prima principal: Poliamida
Tempo de decomposição: 400 anos
Reciclável 

Gradativamente, muitos lojistas estão aderindo ao apelo das sacolas reutilizáveis. No inicio deste movimento era muito comum ver as sacolas de algodão cru, muito mais simplórias. Apesar de cumprirem o mesmo papel, as de algodão vem sendo substituídas por diversos outros materiais e um dos que vem sendo muito utilizado é o nylon.

O nylon é também um polímero, portanto tem seu período de decomposição longo, em cerca de 400 anos, e um processo de reciclagem oneroso e complicado, no entanto, possui um apelo estético mais forte do que o algodão. 

Brilha, passa a sensação de um material muito mais glamoroso e também o sentimento de maior durabilidade e estes aspectos tem chamado a atenção dos varejistas, que vem adotando este material em suas sacolas retornáveis, sem necessariamente levar em consideração o ciclo de vida deste material.

Alguns outros materiais e outras opções de produção de sacolas podem ser encontrados, mas neste primeiro momento vamos nos focar nestes 8 tipos, para produzir algumas conclusões. 

E no final deste estudo formamos algumas opiniões:
Com a Política Nacional de Resíduo Sólido (PNRS), que tem inicio previsto em 2014, teremos o fim dos aterros sanitários, como os conhecemos hoje. Existirão Centrais de compostagem orgânica e Centrais de reciclagens. 

Nesta nova realidade, o primordial é a redução e consumo consciente, de qualquer que seja o objeto consumido, e isto inclui sacolinhas plásticas. Sacolas reutilizáveis são uma boa opção, no entanto a escolha do material e procedência devem entrar no critério de seleção.

Dentre as sacolinhas plásticas acima citadas, parece mais coerente a utilização (se for realmente indispensável) de sacolas plásticas recicladas pós consumo, exaltando a melhor qualidade do polietileno, que é a de permitir o ciclo fechado, onde sacola vira sacola.
No entanto, dentro do cenário ideal de consciência de consumo, esta sacola deve ter a correta destinação após o uso, que é a reciclagem, porque se forem utilizadas como sacos de lixo, manterão o mesmo problema que temos hoje: levarão 400 anos para se decompor no sistema de Compostagem ou no Aterro Sanitário.

Com a PNRS, o plástico Biodegradável Compostável de base alimentar se mostra a melhor solução para acondicionamento de lixo orgânico, isto porque, os lixos que contém restos de alimentos e detritos deverão ser destinado para os sistemas de Compostagem local. No entanto, a produção deve ser melhorada, tanto para viabilizar custo, tornando esta alternativa mais acessível, como para nacionalizar a produção de matéria prima, evitando custos financeiros e ambientais com a logistica. 

Nos aproveitando de todas estas informações, está na hora de assumirmos a responsabilidade sobre o que consumimos e como vamos gerenciar nossos resíduos. Não basta dizer que as sacolinhas são reaproveitadas como sacos de lixo e por isso cumprem sua função. Não temos mais espaço para decompor tantos saquinhos plásticos em nossos aterros sanitários. Aditivos podem ser uma solução, mas ainda não sabemos que efeitos colaterais podem ter.


Por outro lado temos que ter mais informação: como cidadãos comuns não temos como adivinhar o material que é composto uma sacolinha plástica. Temos que exigir regulamentações e informações claras estampadas nas sacolas, orientando como destinar corretamente no pós uso. O fornecimento destas informações devem ser de reponsabilidade do governo, indústria e varejo.

E claro, abrir a mente para inovações e alternativas: um minhocário domestico consome de 30 a 50 quilos mensais de restos de alimentos (para uma família de 4 pessoas), produzindo adubo liquido, húmus e não ocupando mais do que 0,3 m2. Esta é uma solução simples que diminui a demanda por sacos de lixo e ainda estimula o cultivo de um jardim/horta caseiro.